Por Rogério Campos Meira*
Neste passado recente, o Brasil tem se deparado com uma série de escândalos e tragédias. Último deles, envolvendo – novamente – uma barragem.
Tenho atuado com Auditorias de Sistemas de Gestão baseadas em Normas Internacionais nos últimos 30 anos e se há algo que me preocupa muito é quando nos focamos mais nos “formalismos” do que na “vida real”, na Cultura de uma organização, nos processos de “tomada rotineiras de decisão”, na sua gestão e mentalidade de riscos e nos exemplos dados por seus líderes.
Li com toda a atenção o texto “Clarifications regarding Dam I of the Córrego do Feijão Mine”, disponível no site da Vale. Ali, apresentam uma série de informações… formais. Todas relevantes, sem dúvida. Mas, ainda assim formais.
Também pesquisei sobre os requisitos legais aplicáveis. Eles abordam: Planos, Recursos, Projetos, Documentação, Serviço Especializado, Inspeções e entre outros.
Todos esses elementos somente trarão resultados se integrados e inter-relacionados de forma sistêmica. Enquanto Planos e Inspeções não incluírem uma análise profunda sobre quatro temas VITAIS: “mentalidade e gestão de riscos”, “cultura organizacional”, critérios para a “tomada de decisões” e “comprometimento dos líderes”, vamos estar sujeitos a essas ocorrências, profundamente lamentáveis e evitáveis.
“A cultura engole a estratégia no café da manhã”, esta frase é do eterno Peter Drucker! Imaginem o que a Cultura faz com procedimentos formais, com planos, com relatórios de inspeção. Já passa da hora de gerarmos um Choque de Gestão em nosso País!
Até lá, vamos aos trancos e barrancos, com Boates Kiss, Mariana, Museu Nacional do Brasil, Brumadinho e outros. Procedimentos formais, Planos, Relatórios de Inspeção ajudam, mas estão longe de ser tudo.
Como PENSAM, como AGEM, que EXEMPLO DÃO as pessoas que geraram e aprovaram tais documentos? E as pessoas que devem cobrar seu cumprimento? E as pessoas que os cumprem?
Precisamos com urgência avançarmos, seja na empresas, seja nas exigências do Estado. Requisitos apenas formais para poder dizer “minha parte eu fiz” estão muito longe de resolver. Tácito, historiador e político romano, já sabia disso: “Corruptissima republica plurimae leges”, ou, “Quanto mais corrupto o Estado, maior o número de leis”.
Já deveríamos ter aprendido essa lição, faz tempo.
* Rogério Campos Meira é Diretor Executivo da Academia Tecnológica de Sistemas de Gestão, um “think tank” em Sistemas de Gestão, e é um expert reconhecido internacionalmente em temas como Riscos, Compliance e Auditorias de Sistemas de Gestão.